Monday, October 24, 2005
Sunday, October 23, 2005
Helena por Pedro
Recebo cartas de raparigas de doze anos. Querem ser cantoras e mandam beijinhos. Já não respondo. Teria de ser cruel. De resto ninguém me escreve. Ninguém me convida que me apeteça aceitar. Saio sozinha, encontro alguns amigos nos locais do costume, e volto sozinha. Dói-me muito ver a cama vazia. Parece-me injusto. Cada vez é mais difícil. As coisas do quarto, a cama, as duas cadeiras, as cortinas caídas fazem-me sentir como se eu estivesse ali a mais, como se fosse uma intrusa. Às vezes dormem comigo. Mas é só uma infidelidade que cometem para provarem a si próprios que afinal ainda estão muito presos às namoradas. Quando pedem desculpa ainda são mais miseráveis. E eu continuo a cantar cantigas que só imploram, rogam amor e ninguém me ouve. Mais valia não terem palavras, só suspiros e gritos e choros. Talvez alguém ouvisse. Talvez alguém entendesse. É como se estivesse a rezar diante de uma parede de pedra e tivesse por única resposta o eco da minha voz.
Estou cada vez mais sozinha. Depois de cantar ninguém me agarra e diz: “Quero-te como não é possível querer mais alguém. Leva-me contigo. Ou então eu levo-te comigo.” Não. Pedem autógrafos, para as namoradas, ou para os filhos, ou para mostrarem aos amigos. Tocam-me mas ninguém me agarra. Querem só tocar. Batem nos vidros da carrinha, riem-se e eu rio-me. Estou muito cansada. O meu coração está muito pesado. Passaram tantos por mim. Porque não ficou nenhum? Para que passasse um teriam que passar todos os outros? Teria mesmo que ser assim?
P.P.
Estou cada vez mais sozinha. Depois de cantar ninguém me agarra e diz: “Quero-te como não é possível querer mais alguém. Leva-me contigo. Ou então eu levo-te comigo.” Não. Pedem autógrafos, para as namoradas, ou para os filhos, ou para mostrarem aos amigos. Tocam-me mas ninguém me agarra. Querem só tocar. Batem nos vidros da carrinha, riem-se e eu rio-me. Estou muito cansada. O meu coração está muito pesado. Passaram tantos por mim. Porque não ficou nenhum? Para que passasse um teriam que passar todos os outros? Teria mesmo que ser assim?
P.P.
Thursday, October 13, 2005
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