Monday, January 31, 2005
perto de ti
dei por mim a dançar na praia
subi à noite com a maré
fui nas ondas da minha saia
fiquei contigo fora de pé
perto de ti é onde eu quero estar
dei comigo a rolar na areia
o corpo nu vesti de luar
na vertigem da lua cheia
segui viagem p'ra te encontrar
perto de ti é onde eu quero estar
tal como um rio sou água a correr
sobre o teu peito, tão fora de mim
na madrugada o incenso a arder
deixa na pele um cheiro a jasmim
fico perdida de amor
perto de ti é onde eu quero estar
ao pé de ti sinto-me flutuar
perto de ti é onde eu quero estar
ao pé de ti sinto-me transbordar
letra: lena d'água e luís pedro fonseca,
música: carlos fortuna e luís pedro fonseca
álbum "perto de ti", 1982
subi à noite com a maré
fui nas ondas da minha saia
fiquei contigo fora de pé
perto de ti é onde eu quero estar
dei comigo a rolar na areia
o corpo nu vesti de luar
na vertigem da lua cheia
segui viagem p'ra te encontrar
perto de ti é onde eu quero estar
tal como um rio sou água a correr
sobre o teu peito, tão fora de mim
na madrugada o incenso a arder
deixa na pele um cheiro a jasmim
fico perdida de amor
perto de ti é onde eu quero estar
ao pé de ti sinto-me flutuar
perto de ti é onde eu quero estar
ao pé de ti sinto-me transbordar
letra: lena d'água e luís pedro fonseca,
música: carlos fortuna e luís pedro fonseca
álbum "perto de ti", 1982
Friday, January 21, 2005
Menina do circo
Ela estava a pintar os olhos quase colada ao espelho, como se estivesse à procura de alguma coisa dentro dos olhos, por debaixo das pálpebras, com um lápis de carvão. Primeiro um, depois o outro. Depois voltava ao primeiro.
Cada vez que abriam a porta era uma onda de ruído que entrava pelo quarto e o enchia até ao tecto.
Ele andava de um lado para o outro, como os animais presos, da janela até à parede branca e depois voltava para trás. Não valia a pena olhar lá para fora: fazia demasiado escuro. Se houvesse uma cadeira talvez se sentasse, mas não havia cadeira nenhuma e não ia ficar ali de pé, parado, num sítio qualquer. Ficaria com ar de parvo.
A meio da sala havia uma mesa redonda com coisas para comer e algumas garrafas. Ele não tinha fome nem sede.
Foi então que ela soltou dois gritos muito agudos para desprender a voz. Se calhar para afastar a ansiedade com um susto.
Também ele sentia ansiedade. Como se fosse ele que tivesse de ir cantar para uma pequena multidão impaciente, ele que não sabia cantar, nem para os amigos.
"Tudo pronto. Entramos dentro de dois minutos", ouviu dizer ao guitarrista que tinha acabado de entrar. Ela pôs-se de pé.
Estava vestida como uma menina do circo que anda sobre os elefantes. Isso enterneceu-o.
Aproximou-se dela para a agarrar, para a beijar, mas ela estendeu os braços em frente, afastando-o. Por causa da pintura. E os beijos enfraquecem a voz. Era o que ela costumava dizer.
O guitarrista agarrou na guitarra lacada de vermelho encostada à parede do fundo e saiu.
"Até já, meu menino". E a porta fechou-se atrás dela.
Ele ia continuar o seu inútil passeio entre a janela negra e a parede branca. Contaria as músicas. Sabia que eram treze, porque era sempre assim.
Até lá não havia mais nada a fazer.
in A noiva judia
Pedro Paixão
Cada vez que abriam a porta era uma onda de ruído que entrava pelo quarto e o enchia até ao tecto.
Ele andava de um lado para o outro, como os animais presos, da janela até à parede branca e depois voltava para trás. Não valia a pena olhar lá para fora: fazia demasiado escuro. Se houvesse uma cadeira talvez se sentasse, mas não havia cadeira nenhuma e não ia ficar ali de pé, parado, num sítio qualquer. Ficaria com ar de parvo.
A meio da sala havia uma mesa redonda com coisas para comer e algumas garrafas. Ele não tinha fome nem sede.
Foi então que ela soltou dois gritos muito agudos para desprender a voz. Se calhar para afastar a ansiedade com um susto.
Também ele sentia ansiedade. Como se fosse ele que tivesse de ir cantar para uma pequena multidão impaciente, ele que não sabia cantar, nem para os amigos.
"Tudo pronto. Entramos dentro de dois minutos", ouviu dizer ao guitarrista que tinha acabado de entrar. Ela pôs-se de pé.
Estava vestida como uma menina do circo que anda sobre os elefantes. Isso enterneceu-o.
Aproximou-se dela para a agarrar, para a beijar, mas ela estendeu os braços em frente, afastando-o. Por causa da pintura. E os beijos enfraquecem a voz. Era o que ela costumava dizer.
O guitarrista agarrou na guitarra lacada de vermelho encostada à parede do fundo e saiu.
"Até já, meu menino". E a porta fechou-se atrás dela.
Ele ia continuar o seu inútil passeio entre a janela negra e a parede branca. Contaria as músicas. Sabia que eram treze, porque era sempre assim.
Até lá não havia mais nada a fazer.
in A noiva judia
Pedro Paixão
Thursday, January 20, 2005
Sunday, January 16, 2005
Saturday, January 15, 2005
Friday, January 14, 2005
Thursday, January 13, 2005
Sunday, January 09, 2005
Monday, January 03, 2005
Genesis, Cascais 1975
"Fui no dia em que houve tiros lá fora. Estava tanta tanta gente que ficou impossível. Um pé em cima de uma cadeira e agarrada a uma grade para conseguir espreitar o palco de vez em quando, e a cadeira estava a ser usada por três! Fui com o viola baixo e o guitarra solo da minha futura primeira banda, os Beatnicks. Fomos de comboio. Quando chegámos ao pavilhão as filas de espera davam a volta ao quarteirão. Mais valia ir dar uma volta e voltar daí um bocado. Passámos por uma das entradas e perguntámos ao segurança quanto tempo seria previsto demorar, e o rapaz responde: "A senhora está à espera de bebé, pode entrar já.". Eu ainda não estava grávida, mas nós claro agradecemos e entrámos.
O concerto em si foi um espectáculo de luzes e de som, o Peter Gabriel maravilhoso, a voz, a expressão corporal, o que ele fazia no palco... desaparecia de um lado, aparecia do outro... Lembro-me de um túnel por onde ele entrava... Era tudo mais que fantástico para nós. O que tínhamos por cá era um único canal de televisão a preto e branco e os festivais de jazz de Cascais, sem efeitos especiais. E a gente não faltava. Não éramos do jazz, mas era a maneira de vermos os melhores músicos do mundo a tocar."
O concerto em si foi um espectáculo de luzes e de som, o Peter Gabriel maravilhoso, a voz, a expressão corporal, o que ele fazia no palco... desaparecia de um lado, aparecia do outro... Lembro-me de um túnel por onde ele entrava... Era tudo mais que fantástico para nós. O que tínhamos por cá era um único canal de televisão a preto e branco e os festivais de jazz de Cascais, sem efeitos especiais. E a gente não faltava. Não éramos do jazz, mas era a maneira de vermos os melhores músicos do mundo a tocar."
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